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Vício em compras: da origem ao tratamento

Vício em compras: da origem ao tratamento

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A pessoa com o vício em compras, mais do que ser impulsiva, procura o alívio para o seu sofrimento e não apenas por prazer.

O comportamento compulsivo de comprar é como que um ritual com uma base semelhante ao das perturbações obsessivo-compulsivas. Esta dependência conduz à perda do controlo sobre os comportamentos e sobre a vida da pessoa em geral.

Lista de Conteúdos

1. O que é?

É frequente, pessoas com o vício em compras, recorrerem a justificações para “fazer compras”, quer seja dando ênfase às vantagens e benefícios do produto, quer argumentando a favor de necessidades ilusórias relativamente ao mesmo. Assim, a sua capacidade de apreciação e crítica parecem estar comprometidas, e a sua dificuldade em controlar o impulso ativa o comportamento de comprar.

O que estimula e interessa ao comprador compulsivo não é o objeto comprado, mas sim o ato de comprar, ou seja, compra-se não para possuir, mas “por e para” simplesmente comprar.

Na prática, a aquisição provoca nestes indivíduos efeitos semelhantes aos do consumo de cocaína: são libertados altos níveis de dopamina, neurotransmissor responsável pela sensação de recompensa psicológica, de prazer ou de diminuição de tensões.

A dependência psicológica do ato de comprar, faz com que o “shopaholic”, ou pessoa com o vício em compras, coloque as “suas compras” em primeiro lugar, negligenciando a família, o trabalho, a vida social, etc., tornando-se totalmente ausente. Ainda que seja capaz de antever os efeitos nocivos do seu comportamento compulsivo relativamente ao vício a compras, o sujeito adito é completamente impotente para controlar e travar a ação de comprar.

Antes, durante e depois: sabia que…?

Estudos comprovam que antes do ato de comprar o indivíduo sente agitação, enquanto realiza a compra reina a insegurança, pois sabe que o que está a fazer é errado, e é depois invadido por uma sensação de felicidade, sobretudo quando nos referimos a bens mais dispendiosos. No entanto, imediatamente a seguir ao ato da compra é a culpa que se instala, acompanhada da vergonha e de outros sentimentos nada agradáveis. Paralelamente, “descendo” à realidade, a pessoa com o vício em compras percebe que as suas dificuldades continuam todas lá, acrescidas de mais complicações e “decrescidas” de dinheiro. Mesmo assim, não consegue parar. Precisa de ajuda.

2. Consequências de ter o vício em compras (ou ser shopaholic)

Vicio em compras
Vicio em compras2
    • Financeiras: pode-se chegar ao ponto de contrair dívidas ou até mesmo roubar para obter o dinheiro necessário para efetuar mais compras, chegando a levar o indivíduo ao desespero;
    • Profissionais: derivadas do stress e da perda de tempo que é despendido nas compras;
    • Ruturas familiares e relacionais: além de se sentirem impotentes e postos de lado, familiares e amigos ficam preocupados com o sofrimento da pessoa e com os gastos exorbitantes que tem feito;
    • A dependência das compras pode aparecer de uma forma isolada, podendo também coexistir ou conduzir a outros tipos de comportamentos, tais como: bulimia, adição ao jogo ou a qualquer tipo de substâncias alteradoras do estado de espírito.

3. Qual o tratamento?

A intervenção profissional de base cognitivo-comportamental parece ser uma solução eficaz para esta doença do vício em compras.  Em primeiro lugar, é importante ajudar o adito a identificar os pensamentos associados ao ato de comprar compulsivamente. Assim, estes pensamentos serão trabalhados e alterados, já que a sua maioria está ligada a formas distorcidas de avaliar e perceber a realidade. O reforço da sua autoestima, a resolução de problemas, a gestão emocional são alguns dos componentes a ser trabalhados em terapia.

“Adito Anónimo”

'(em tratamento) Percebi que usava as compras para 'tapar' a minha infelicidade. Findo o tratamento, desfiz-me de tudo e paguei a dívida do cartão de crédito, mas mais importante, tive coragem de me divorciar e procurar a felicidade.'

A compulsividade e o vício a compras é uma doença grave e progressiva, à semelhança de todas as adições. Por esta razão, o internamento poderá ser a única forma de colocar um travão às compras indiscriminadas.

No nosso centro de tratamento, a abordagem terapêutica para este tipo de dependência é efetuada através do modelo terapêutico Change & Grow® aplicado nas mais diversas formas de terapia individual e grupal. É vital para o sucesso do tratamento que o indivíduo aceite a doença, liberte o passado, defina objetivos para o futuro e desenvolva estratégias de coping de prevenção à recaída. A duração deste processo terapêutico, em regime de internamento, desenvolve-se entre um período aproximado de 90 a 150 dias. Após o período de tratamento é sugerida a frequência regular dos grupos terapêuticos mensais de Aftercare.

O paciente vai tomando, no seio do grupo, consciência da sua patologia e dos danos que causou a si e aos outros, readaptando-se gradualmente à vida em sociedade. Aos poucos, aprende a lidar com a sua ansiedade, o que lhe diminuirá a obsessão por compras. Será auxiliado na descoberta de comportamentos mais adequados para superar os sentimentos negativos, ao invés de querer simplesmente manter-se afastado deles. Poderá, inclusive, fazer planos para o dinheiro de forma livre, refletindo sobre o sentido e o valor do mesmo. 

O sujeito deixará de ser assaltado pela necessidade de comprar o que os outros têm para não se sentir diminuído em relação a eles e desistirá de tentar comprar amor e poder com prendas caras e sofisticadas. No internamento para a dependência das compras, o adito poderá, com as ferramentas que, entretanto, vai angariando, desenvolver estratégias de combate às manifestações da sua doença, como por exemplo:

  • Levar o cônjuge ou outro familiar às compras consigo, para que este dê o seu parecer quanto à necessidade e/ou pertinência da compra;
  • Pagar as compras com dinheiro, evitando o uso de cartões de crédito;
  • Fazer uma lista das coisas a comprar, cumprindo-a religiosamente;
  • Evitar compras online;
  • Dedicar-se a algum exercício físico para reprimir o ímpeto da compra…

Em suma, o internamento habilitará o paciente a reeducar sentimentos e impulsos, cultivar a criatividade, alcançar a serenidade, encontrar-se como indivíduo e, o mais importante, aprender a gostar de si, o que eliminará o paradoxo de achar que são as coisas que nos preenchem!

RESUMO

Tal como em qualquer outra adição, o sujeito deve encontrar razões que justifiquem a mudança de comportamento, analisando prós e contras do ato de comprar nas diferentes áreas da sua vida.  

Será normal que os impulsos surjam, porém torna-se fundamental que o paciente os reconheça, aceite e tolere, sem agir sobre eles. Por oposição, este irá aprender e desenvolver novas estratégias e ferramentas para que consiga satisfazer as suas próprias necessidades sem recorrer às compras.

Não ignore este problema, mesmo que não seja diretamente consigo. Conte sempre connosco.

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