Embora o álcool e outras substâncias estupefacientes sejam consideradas drogas extremas por excelência, outras vão tomando lugar no ranking das adições sem que sejam, contudo, alvo de grandes preocupações, uma vez que se consideram fruto “normal” da sociedade moderna, da evolução tecnológica e dos modelos culturais.
Este é o caso da dependência da Internet, uma nova adição, que integra o grupo das dependências comportamentais. É uma patologia grave que pode condicionar a vida de milhares de seres humanos e respetivas famílias.
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A dependência da Internet não depende nem de idades, nem de contextos sociais, educativos ou económicos. A facilidade de acesso à Internet, através do telemóvel ou tablets e ipads, mudou substancialmente este panorama, havendo cada vez mais mulheres, crianças e adolescentes a utilizar a rede. Os estímulos reforçadores podem ser: o som e cores das redes sociais ou dos jogos, o contacto físico com o teclado ou telemóvel e até o contexto ou espaços onde habitualmente se acede à Internet.
Este tipo de dependência inclui componentes como pensar excessivamente acerca da Internet (vontade de ir, o que se irá fazer, etc), alterações de humor, sintomas de abstinência, stress, mentiras (neste caso acerca do tempo online), conflitos e recaídas, como qualquer outra adição.
As consequências físicas deste tipo de dependência podem surgir na forma de:
O uso excessivo do telemóvel e internet consome grande parte do tempo da pessoa, bem como da sua energia e outros interesses. Assim, tem um forte impacto negativo ao nível familiar, social académico ou profissional, económico e pessoal. Ao nível psicológico, pode implicar diversas consequências:
TESTEMUNHO 1 – PERIGO VIRTUAL (anónimo)
“Mal chegava a casa, em vez de ir estudar, ligava logo o computador e começava a falar com o meus amigo virtual (…) Depois de poucos meses de conversa, pedi-lhe para marcar um encontro. Só que ele não acedeu. Dois meses depois voltei a insistir e ele aceitou, mediante a condição de nos encontrarmos num beco escuro. Estranhei, mas já estava tão envolvida que me deixei ir… Foi a pior experiência da minha vida, ele apanhou-me por detrás e tapou-me a boca, agarrando-me à força. Passou a mão pelo meu corpo e só aí percebi que tinha caído numa cilada. “
TESTEMUNHO 2 – MALEFÍCIOS DA INTERNET (anónimo)
“O pouco tempo que estava em casa, era na internet, quer estivesse na sala ou na cama, só que do portátil é quer não se separava. Adormecia com o portátil ao colo. Deixámos de ter contacto e a nível profissional também começou a ter problemas.
Aturei esta situação por dois anos, até porque tínhamos um filho em comum, o qual não queria prejudicar com a separação. Fui aguentando, até que um dia lhe fiz um ultimato: ou eu ou a internet. Não lhe pedi para deixar de navegar na net, mas só queria que o fizesse de forma equilibrada. Para acumular com isto, perdeu o emprego, há muito tempo que não estava concentrado, além de que chegava frequentemente atrasado. Tinha a vida num caos e tinha que dar um rumo nela, mas bem depressa.”
A dependência à Internet é pautada principalmente por carências de cariz afetivo e relacional do que por necessidades objetivas. Independentemente do modo de expressão da adição, a sua base é comum: reflete-se na total incapacidade de o indivíduo lidar com os próprios sentimentos.
O espaço virtual é visto como sendo um espaço seguro e a sensação de (falsa) proteção é reconfortante para estes indivíduos que podem acreditar que apenas lá é que são respeitados, amados e valorizados enquanto pessoas. Por outras palavras, a Internet pode funcionar como um meio de expressão (ex: pessoas tímidas), um apoio social, uma forma de alcançar satisfação sexual, de experimentar um “eu” diferente, de incrementar o sentimento de domínio e de tentar colmatar estados depressivos ou ansiosos. Estes fins podem ser atingidos através de redes sociais, jogos online, sites de pornografia ou chats relacionados, entre outros. Não ignore este problema, e já sabe, conte sempre connosco.