O processo de recaída, ao contrário do que muitos possam pensar, não acontece de um momento para o outro. É um processo, e não um evento, que tem uma infinidade de razões associadas e que muitas vezes nem o próprio é capaz de identificar.
A recaída pode começar meses ou até anos antes da recaída física propriamente dita. Antes desta, há uma recaída emocional e mental que posteriormente leva à comportamental.
Lista de Conteúdos
Diversos sinais, embora raramente reconhecidos, da iminência de uma recaída podem aparecer ao longo das várias fases progressivas do seu processo.
Primeira fase
A possibilidade de recaída começa a manifestar-se quando não se consegue pensar com clareza ou lidar com os próprios sentimentos. O sono e a memória começam a ficar afetados, encontram-se dificuldades em lidar com o stress e em coordenar os movimentos. Surgem sentimentos de vergonha, culpa e desespero.
Segunda fase
Posteriormente, regressa o estado de negação, perdendo-se a capacidade de se ser honesto relativamente aos próprios pensamentos e sentimentos.
Terceira fase
Já não querendo pensar ou falar sobre o seu desconforto, o adito faz de tudo para não ter de olhar para dentro de si: preocupa-se com os outros, assume comportamentos compulsivos, isola-se, impõe barreiras de defesa à sua volta, entre outros. Assim, perde-se o sentido da realidade e da real proporção das coisas. A depressão, entretanto, chega e acomoda-se. Olha-se mais para o negativo e sente-se o fracasso em tudo o que se faz. Perturbado e/ou irritado, o indivíduo passa a reagir de forma exagerada.
Quarta fase
Neste processo de recaída, o adito reconhece a sua perda de controlo, quebrando a negação e entrando num modo de “autopiedade”. Por outras palavras, sente pena de si próprio e, muitas vezes, procura chamar a atenção. As mentiras conscientes repovoam de novo o seu dia-a-dia, desenvolvem-se ressentimentos irracionais, interrompe-se a recuperação e mergulha-se no mar da solidão, da frustração, da raiva e da tensão permanente.
Quinta fase
Só vê uma solução: reincidir no “uso”, com provável colapso físico e emocional usando o lema «perdido por cem, perdido por mil». O paciente começa a imaginar-se na sua adição, sem pensar na culpa e vergonha que sentirá posteriormente. Dificilmente ouve as pessoas à sua volta, dado que começa a entrar num estado de desespero.
Caso não se intervenha atempadamente, este processo de recaída terá três destinos prováveis: a loucura, o suicídio ou o regresso à adição ativa.
Sim, todas as recaídas são passíveis de se recuperar.
Então, o que fazer?
“João Paulo (Nome Fictício)”
Sempre que falava com ele, prometia-me que há muito que não consumia. (…) Uma tragédia abateu-se sobre a família com a morte de um dos seus filhos, uma leucemia fulminante tirou-o de nós. O meu irmão estava muito em baixo e aconselhei-o a pedir apoio psicológico, mas recusou. Tentei estar por perto e alerta a todos os sinais. Temia que recaísse e que voltasse a consumir. E a verdade é que acabou por recair. Quando me apercebi já era tarde demais. Estava completamente viciado.
Em certas ocasiões, a recaída em superar um vício vem acompanhada por uma atitude de descuido em relação ao plano a seguir no processo. Em alguns casos, estas recaídas ocorrem quando o paciente retoma o contato de antigas companhias desagradáveis. O processo de recaída pode chegar a um fim quando o paciente se torna consciente de si mesmo que quer mudar sua vida. Se precisar de ajuda, conte connosco.