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Perturbação Obsessivo-Compulsiva

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Os limites da perturbação obsessivo-compulsiva nem sempre são percetíveis, pois não se trata de consumir ou não consumir substâncias, comprar ou não comprar isto ou aquilo, tomar medicamentos ou não tomar, estar ou não estar na cama ou no sofá o dia todo em depressão, navegar ou não horas e horas pela Internet.

É uma questão de procurar obsessiva e compulsivamente o “equilíbrio” em cada tarefa, em cada gesto, em cada reação, em cada espaço, em cada contexto: ao amanhecer, ao anoitecer, de dia, de noite, no horário laboral, nos períodos de lazer, 24 horas de cada dia do ano.

Lista de Conteúdos

1. O que é?

A Perturbação Obsessivo-Compulsiva, também conhecida por POC ou OCD (Obsessive Compulsive Disorder), não apresenta a linearidade de outras adições mais evidentes, apresentando, em diversas circunstâncias, uma linha de fronteira bastante ténue com o que se padronizou como suposta normalidade. Por exemplo, todos nós já duvidámos se fechámos ou não o carro, e até voltámos atrás para confirmar. Fazê-lo de forma repetitiva por duvidar constantemente se de facto foi fechado, mesmo depois de já se ter verificado que sim, é que pode distinguir destes episódios comuns do dia-a-dia. 

Até há pouco tempo, muitas pessoas viam a perturbação obsessivo-compulsiva como uma mania, uma “pancada” ou até mesmo expressão de uma “falha mental”. No entanto, hoje em dia sabe-se que esta é uma perturbação de base emocional e relacional, em que falhar é exatamente a palavra proibida.

De facto, o perfecionismo é uma das marcas mais vincadas desta patologia, sendo em muitos casos a principal preocupação de quem sofre desta perturbação. 

Rituais associados a verificações infindáveis, a limpezas demoradas, a contagens prolongadas, à busca permanente de uma ordem de objetos, a descontaminações (quase mais rigorosas do que as que se fazem numa sala de cirurgia) e a inquietações exacerbadas com a simetria produzem, para além de um cansaço extremo, uma total ausência de espontaneidade. A descontração é, para quem sofre com esta perturbação, um conceito absolutamente estranho.

Na Perturbação Obsessivo-Compulsiva dá-se uma inversão da escala de prioridades e de valores e o indivíduo passa a viver, praticamente em exclusividade, para dar resposta a tais impulsos. A pessoa acredita, ainda que de forma irracional, que algo trágico ocorrerá se não realizar essas ações. Os impulsos parecem, então, a única solução de o prevenir e de reduzir a sua ansiedade. 

Assim, o indivíduo encontra-se entre a espada e a parede; executar os rituais esgota-o e conduz a inevitáveis conflitos com quem o confronta a esse nível (família ou amigos mais próximos), por outro lado, não os efetuar desencadeia nele uma insuportável condição ansiosa. As coisas tidas como simples complicam-se até ao impossível e começam a evitar-se situações, lugares, pessoas e objetos considerados causadores do mal-estar.

O “ritualista” mantém-se em estado de alerta constante, com o intuito de controlar tudo e todos, o que lhe traz não só uma fadiga excessiva, mas uma enorme frustração, porque, na verdade, o seu objetivo é inalcançável. Ainda, o indivíduo tem que viver com uma enorme incompreensão relativamente à sua dependência comportamental e, frequentemente, acusado de não ter força de vontade suficiente para a controlar. 

O obsessivo-compulsivo tem absoluta noção de que os rituais que executa não se enquadram numa matriz de comportamentos vulgares e aceites, mas não é capaz de os conter, acabando por ter uma vida dupla que o frustra e esgota.

2. A Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) tem tratamento?

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Mudar os comportamentos previamente descritos é o primeiro passo para modificar os pensamentos que lhes estão na origem e os sentimentos que daí advêm e que nunca são positivos. 

Tomar consciência de si próprio, da sua adição, do sofrimento causado à família, do comprometimento das relações afetivas provocado pela doença, do prejuízo espiritual e económico, da estagnação da sua vida ou, pior, da decadência desta e do seu real perigo, podem constituir pontos de partida para um sincero pedido de ajuda por parte do sujeito. Só quando ele quer realmente ser ajudado é que é sensato intervir.

Por mais paradoxal que possa parecer, o “adito” a rituais tem o privilégio de possuir na sua adição ferramentas que poderão ser utilizadas para a sua libertação desses rituais; trata-se de tirar vantagem de características da própria doença para a mitigar. Se aprender a usá-las com sabedoria, poderá usufruir dessas singularidades na generalidade das suas vivências fora do tratamento. A atenção inusitada a todos os pormenores é uma destas particularidades.

A dessensibilização, que é uma via muito utilizada no tratamento da Perturbação Obsessivo-Compulsiva, consiste em ir reduzindo gradualmente os rituais do paciente, quebrando-lhe os hábitos fortes que ele converteu em padrões. No entanto, é necessário ter o cuidado de os substituir por outros mais adequados para ele e para a sua vida; de onde se tira algo negativo tem de se colocar o seu oposto, sob pena de o paciente tentar preencher esse vazio com condutas antigas ou piores. Neste procedimento, há que atender aos tempos e à capacidade de resposta de cada indivíduo e a paciência é uma das principais características terapêuticas requeridas.

Um sorriso de encorajamento, um olhar de aprovação ou um abraço sentido de reconhecimento do esforço poderão ter efeitos muito positivos num paciente que tantas vezes se sentiu incompreendido. Aos poucos, vai começando a viver de facto, sem que a sua vida seja uma mera questão de sobrevivência, de dor e desespero.

3. Sabia que o internamento para a POC é a forma mais rápida de se tratar esta perturbação?

Se o paciente frequentar sessões de psicoterapia ou reuniões de grupos de autoajuda, mas regressar a casa em seguida, o efeito terapêutico desses momentos poderá ser diluído no tempo.

No seu “habitat natural”, que é o seu espaço de conforto, ele terá maior tendência para executar os seus rituais sempre que lhe surjam desafios, contrariedades, angústias, vazios, confusões, indecisões e desconfortos de qualquer ordem.

Em situação de Perturbação Obsessivo-Compulsiva, o internamento funciona como uma espécie de “dieta” das compulsões que o paciente sente a impulsão de efetuar. Para ajudar à compreensão da sua adição, ao seu autoconhecimento e à descoberta de realidades saudáveis em que a escolha é possível, o paciente realiza trabalhos escritos, leituras e outro tipo de tarefas. 

A interação com os outros membros do grupo no centro de tratamento, que pode no início representar uma dificuldade quase inultrapassável, revela-se como sendo muito construtiva no processo de superação da obsessão.

Efetivamente, a segurança derivada do apoio mútuo e o amor entre todos são transmitidos ao paciente de uma forma contínua e com acompanhamento constante, permitindo-lhe desconfirmar convicções erradas e medos irracionais. O paciente terá sempre alguém por perto; alguém a quem poderá recorrer, pedir opinião e ajuda.

Naturalmente que, como em qualquer outra adição, o processo não decorre em linha reta e de uma forma contínua até ao infinito. No entanto, não é apenas a meta que conta; as eventuais adversidades do caminho, a par de todas as ocasiões mais agradáveis, contribuem para o crescimento pessoal do indivíduo e ser-lhe-ão úteis no seu futuro. 

À medida que o tempo vai passando, o paciente vai-se dando cada vez mais conta dos seus ganhos. Primeiro, através dos seus colegas de tratamento – mais aptos para lhe reconhecerem as mudanças. Depois, por si próprio, numa fase em que adquire verdadeira consciência de si e em que a sua autoestima é incrementada.

A vida ganha cores mais alegres, partilhadas com todos os que o rodeiam, porque agora o sujeito deixou de estar só e de se sentir uma “ave rara”, para passar a ter a liberdade de voar e de transmitir a outros seres humanos, em sofrimento, tudo o que lhe foi transmitido e experimentou no centro de tratamento.

RESUMO

Classificada como uma doença mental, a Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) caracteriza-se por obsessões recorrentes (como pensamentos e imagens intrusivos, indesejados e incontroláveis) e comportamentos ou rituais repetidos de forma compulsiva. A prevalência na população em geral é de 2-3%.

As pessoas com Perturbação Obsessivo-Compulsiva podem manifestar uma série de sintomas que causam tensão, medo, culpa e ansiedade e interferem nas atividades da vida diária, no trabalho e nas relações.

A Perturbação Obsessivo-Compulsiva pode ser tratada recorrendo a diferentes tipos de tratamento, como terapia farmacológica e psicoterapia, ou ambos. O objetivo é reduzir os sintomas.

Não ignore este problema, mesmo que não seja diretamente consigo. Conte sempre connosco.

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1 Comentário

  1. Carlos Alves 23 de Agosto, 2021

    Excelente artigo! Isto é algo que tenho andado a tentar melhorar mas que tem sido muito difícil conseguir sozinho. Faz-me imensa confusão ver as coisas que não estão perfeitamente alinhadas e consome-me muito a paz de espirito.

    Responder

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